Na arquitetura, quando se pensa sobre acessibilidade, é importante considerar todos os aspectos que envolvem as limitações do cliente. Para a projetista Gisele Garcia, do escritório Garcia Engenharia & Arquitetura, que já elaborou uma proposta de layout para um cliente cego, que perdeu a visão aos 18 anos, a adaptação requer pesquisa. “Adaptar um projeto não é somente fazer uma maquete e considerar que o cliente cego, por exemplo, vá entender. Nestes casos, cabe a nós [profissionais] pesquisarmos a melhor forma de apresentação”, diz. 

O cliente em questão, que hoje já tem 45 anos, procurou o escritório para a elaboração do projeto da área gourmet de sua residência. “Depois do estudo preliminar do terreno, fizemos uma reunião com o cliente para saber o que eles queriam e quais eram suas necessidades”, conta. Entre as exigências, o cliente desejava um espaço maior, churrasqueira, uma pequena academia e bastante iluminação. Isso porque sua namorada, que possui baixa visão, tem visão limitada em ambientes bem iluminados. “Adaptamos uma planta baixa usando strass, EVA e outros materiais com texturas, para que o cliente pudesse compreender o lugar de cada coisa”, afirma. 

Estratégias inclusivas 

De acordo com Garcia, estratégias inclusivas são vitais para que todos os usuários sejam capazes de compreender e se relacionar da melhor forma com o espaço. “Uma opção é apresentar o projeto em braile, que é um sistema de escrita tátil utilizada por pessoas cegas ou com baixa visão. Também podemos adaptar outros materiais para demonstrar diferentes ambientes e objetos, por exemplo, por meio das texturas de madeira, bamboo, pedras, papelão, isopor, lantejoula e outros elementos”, acrescenta. 

Os hábitos mais frequentes e os deslocamentos do cliente também fazem diferença durante a criação do projeto. Para a projetista, se o cliente consegue se locomover em um ambiente específico sem que precise depender de alguém, isso é usado como base. “Usamos como base o ambiente em que o cliente vive e, por meio de uma reunião, vamos discutindo os pontos positivos e negativos do ambiente em que ele está inserido”, ressalta. 

Além disso, outro fator importante é não deixar com que o cliente se sinta desconfortável durante a apresentação. “É preciso agir com cautela e ser o mais claro e objetivo possível. Por exemplo, quando um cliente cego pega o projeto, já adaptado de acordo com sua necessidade, ele vai conseguir se localizar, você não precisa ensiná-lo como ler”, conclui. 

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